Pendularidade + safra = caos

Os números estão no estudo "O fenômeno da mobilidade pendular na Macrometrópole do Estado de São Paulo: uma visão a partir das quatro Regiões Metropolitanas oficiais", elborado em parceria do NEPO/Unicamp com a Emplasa, com base em dados do Censo 2010: o percentual da População em Idade Ativa (PIA) que realiza viagens diárias, na Baixada Santista, subiu de 11,7% para 15,51%, na década passada. Trata-se da maior pendularidade dentre as regiões metropolitanas do estado.
Neste período houve aumento tanto da pendularidade de saída da região, como da de entrada. O município campeão em viagens de saída segue sendo São Vicente, em que cerca de 77 mil pessoas em idade ativa se deslocavam diariamente, na época do último Censo, enquanto aproximadamente 111 mil pessoas entravam em Santos todos os dias.
No total, cerca de 184 mil pessoas com idade ativa entravam na Baixada diariamente, e 201 mil saiam no mesmo intervalo. Mas as viagens internas à região seguiam sendo as mais relevantes, sobretudo com direção a Santos.
A conclusão é óbvia: Santos segue exportando população para os municípios vizinhos, e continua concentrando os empregos e serviços da região, enquanto cidades como São Vicente mantêm o perfil de cidades dormitório, com fraca base econômica, que obriga os deslocamentos pendulares diários para expressiva parcela da população.
Portanto, algo precisa ser feito para enfrentar esta situação e garantir mais mobilidade aos cidadãos.
Por outro lado, há poucas semanas começou a exportação da safra de grãos do Centro-Oeste brasileiro, concentrada em alguns portos, dentre os quais Santos é o principal.
Assim como ocorre há mais de uma década, os produtores embarcam os grãos, sobretudo soja, sem controle adequado por parte dos terminais que os exportam. Some-se a esta situação, o fato de que o sistema ferroviário foi aniquilado pelos governos militares e que não há outros modais relevantes, de acesso ao porto, além do rodoviário.
Outro aspecto é a falta de silos para armazenagem da safra, o que resulta na prática de silagem na carroceria dos caminhões, que chegam à Baixada sem estrutura adequada de estacionamento, para regulação dos embarques, e sem fiscalização adequada pela Polícia Rodoviária e CODESP, que deveria impedir a prática de recepção de carretas, nos terminais, sem espaço interno suficiente para estacionamento.
Tudo isso ocorre em um quadro de enorme atraso, como aliás vem ocorrendo desde que nosso porto foi construído, no que diz respeito à construção de acessos rodoviários e ferroviários aos locais de embarque.
Mistura-se todos estes.elementos descritos acima e se obtém o caos diário que vimos enfrentando nas últimas semanas. Caos este que vem trazendo enormes transtornos aos cidadãos que pela Baixada transitam e colocando a faca no pescoço das Prefeituras, que não possuem, isoladamente, as condições ideais para colocar ordem na enorme bagunça em que se transformou a (i)mobilidade urbana da Baixada Santista.
Destaco aqui o que ocorreu na última quinta-feira, quando a Prefeitura de Cubatão teve que suspender as aulas da rede municipal, por falta de condições de tráfego para os ônibus escolares. Isto é inadmissível. 
Não entendo o que o Ministério Público está esperando para entrar nesta discussão e obrigar os agentes públicos envolvidos a adotarem as providências necessárias para garantir a normalidade em nossas cidades.
Louve-se a rápida ação da Secretaria do Patrimônio da União, atualmente dirigida pela geóloga e santista Cassandra Maroni Nunes, que já fez sua parte, destinando um terreno na Alamoa, para a implantação de um pátio de caminhões, visando reduzir o número de veículos na malha urbana. Parabéns pela rápida ação e oxalá a CODESP se inspire e adote medidas para que os terminais tenham responsabilidade para com nossa região.
Por último, considero fundamental uma discussão metropolitana acerca da questão da pendularidade. É imperioso que as Prefeituras e o Estado construam políticas públicas para fixar a população nas áreas centrais e criar base econômica nas áreas dormitório, além de garantir transporte público eficiente e acessível a todos.
A escolha é entre a ação ou o caos. Entre a mobilidade e a imobilidade.


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