As escolas de Chicago
Entre as próximas segunda e
terça-feiras, 6 e 7 de maio, ocorre o FICON, evento que reúne, em Santos, o
setor da produção imobiliária dirigida para o dito mercado formal, no
emblemático Mendes Convention Center.
Dentre os temas abordados, destaca-se o das cidades sustentáveis e
inteligentes, tendo como paradigma Chicago, nos Estados Unidos, cujas soluções
urbanas e arquitetônicas serão tema de uma das palestras.
Para conhecer o programa completo do evento, clique aqui.
É perfeitamente compreensível que a cidade americana seja tão
simbólica para o setor, afinal, seu nome identifica três escolas, a saber de
arquitetura e urbanismo, de sociologia e de economia, que se tornaram
referência no mundo do real state.
A escola de arquitetura e urbanismo de Chicago desenvolveu-se a
partir de meados do século XIX, com a consolidação da cidade como o grande
entroncamento hidro-ferroviário, que concentrou a produção agrícola de todo o
meio-oeste americano e transformou-a no centro financeiro mundial de
commodities, posto que ocupa até hoje.
Após o incêndio de Chicago e com o desenvolvimento das estruturas
de aço laminado, as antigas construções de madeira foram substituídas, no
distrito central, pelos primeiros arranha-céus modernos, viabilizados também
pelo advento do recém-inventado elevador. Mas o advento da verticalização tem
como principal impulso o encarecimento do solo no centro de Chicago, que tornou
economicamente viável esta modalidade de construção.
A partir daí uma série de arquitetos e engenheiros, como William Le Baron Jenney, Louis Sullivan, Daniel
Burnham, John Wellborn Root, William Holabird e Martin Roche, passam
a desenvolver projetos de torres residenciais e comerciais, nesta e em outras
metrópoles americanas, em áreas onde o preço da terra também tornava a verticalização
uma solução economicamente atrativa.
Portanto, para o nosso setor da produção imobiliária, turbinado
pela verticalização da última década, Chicago é uma forte referência técnica e
econômica.
Mas no campo da sociologia
urbana, a cidade americana também desempenhou papel importante. A partir da
década de 1920, um grupo de pesquisadores da Universidade de Chicago apresentam
uma série de contribuições à sociologia, psicologia social e ciências da
comunicação.
Os destaques desta escola são o funcionalismo em psicologia, a
sociologia urbana, a ecologia humana, e as formas sociológicas da psicologia
social que receberam o nome de behaviorismo social e interacionismo simbólico,
analisando a relação entre indivíduo e comunidade, a interpretação como método
e o estudo da linguagem como fator que intervem na comunicação.
A Escola de Chicago, na sociologia, foi a primeira tentativa relevante
de estudo dos centros urbanos, já em crise nas maiores metrópoles capitalistas,
combinando conceitos teóricos e pesquisa de campo de caráter etnográfico.
Os mais destacados representantes desta escola são William Thomas, Florian Znaniecki, Robert E. Park,
Louis Wirth,
Ernest Burgess, Everett Hughes e Robert McKenzie,
que iniciaram uma abordagem de estudo do fenômeno urbano, no campo da
antropologia urbana.
Trata-se de uma escola
ultrapassada, pois tendo como foco de análise principal a analogia entre o
urbano, um fenômeno social, e a natureza, um fenômeno natural, relaciona o surgimento
de favelas, a proliferação do crime e da violência, ao aumento populacional, sem
considerar as relações econômicas e materiais, em especial as relações de
classe social.
Mas é certamente, no
âmbito da economia, aquele em que o termo Escola de Chicago é o mais caro, para
o mercado imobiliário, pois esta corrente do pensamento, surgida na mesma
Universidade de Chicago, nos anos 1950, é uma escola econômica que defende o livre
mercado e que foi disseminada por estudiosos como George Stigler e Milton
Friedman.
Esta linha de pensamento
associa-se à teoria neoclássica da formação de preços e ao liberalismo
econômico, refutando o keynesianismo em favor do monetarismo, e rejeitando totalmente a regulamentação dos negócios, em favor de um laissez-faire quase absoluto. Em termos metodológicos baseia-se
em estudos estatísticos, com menor ênfase à
teoria econômica.
Portanto, não é de espantar que Chicago tenha se tornado o paradigma do setor imobiliário, no ano em que Margaret Thatcher faleceu e em que a crise do capitalismo provocada pela falta de regulamentação do mercado teima em manter-se insepulta, assim como o hábito tupiniquim de tentar transpor para nossas paragens modelos absolutamente inadequados e extemporâneos. Ideias fora de lugar, no dizer de Roberto Schwarz.
Mas para mim a melhor Escola de Chicago continua sendo a do velho e bom blues, de B. B. King, Elmore James, Bo Diddley, Junior Wells, Buddy Guy e outras feras.
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